Resultado de fluxos migratórios e da fixação de residência de brasileiros, portugueses e cidadãos de outros países de língua portuguesa no exterior, o ensino do português como língua de herança (POLH) é um fenômeno relativamente recente, que, iniciado na década de 1980, ganha cada vez mais força em todo o mundo.

Suas raízes, contudo, estão na transmissão, pelos pais e iniciativas comunitárias, da língua portuguesa e das culturas dos países de expressão de língua portuguesa às crianças que vivem em uma sociedade em que o português é língua minoritária. E, justamente este desejo de que seus filhos falem português e conheçam sua cultura, faz que fez com que pais e mães em todas as partes do mundo se organizem e criem espaços de convivência e transmissão. Dessa forma, esta língua herdada dos pais é um verdadeiro patrimônio linguístico e cultural, carregado de emoções, história familiar e identidade pessoal.

Como uma evolução natural desta nova realidade, o português como língua de herança foi gradativamente ganhando espaço, conquistando arenas e despertando o interesse do meio acadêmico. Hoje, o POLH é ensinado por iniciativas voluntárias e públicas em várias partes do mundo, conta com políticas de apoio dos governos e é objeto de inúmeras teses, artigos acadêmicos e livros especializados.

Dentre as iniciativas de promoção e manutenção do POLH na Europa, está nossa iniciativa, o Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança que trabalha para a promoção, divulgação e manutenção do POLH na região.

POLH ou PLH?

Com a evolução concomitante, mas não unificada, do português como língua de herança em diversas partes do mundo, surgiram duas nomenclaturas para o termo: POLH e PLH. Dito de forma simplificada, a forma POLH é predominantemente utilizada na Europa, ao passo que a forma PLH é mais utilizada nos Estados Unidos.

O Elo Europeu reconhece ambas as nomenclaturas como de igual valor, mas, por motivos práticos e históricos, utiliza somente POLH em suas atividades e material.

16 MAIO: DIA MUNDIAL DO PORTUGUÊS COMO LÍNGUA DE HERANÇA

Em 16 de maio de 2014, a organização Brasil em Mente, sediada nos Estados Unidos, lançava, com o apoio de dezenas de organizações similares em todo o mundo, o Dia Mundial de Português como Língua de Herança. O objetivo da criação de um dia específico para a comemoração desta variante do português é sensibilizar as pessoas sobre a importância do ensino e uso do português como língua de herança para a promoção e manutenção da língua e de suas culturas em todo o mundo.

Simpósio Europeu de Português como Língua de Herança – SEPOLH

Camila Lira (Linguarte), Andrea Menescal (Elo Europeu/Mala de Herança em Munique), Maria Luisa Ortiz Alvares (Universidade de Brasília), Maria José Maciel (Elo Europeu/Português sem Fronteiras) e Ana Souza (ABRIR).
SEPOLH, 2015.

Em 2013, a organização ABRIR, sediada em Londres, tomou a iniciativa de reunir grupos de ensino de português como língua de herança na Europa a fim de compartilhar experiências e criar sinergias que trariam benefícios para todo o continente.

Assim, nasceu o Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança – SEPOLH, um evento bienal de representantes de organizações brasileiras atuantes na Europa, que compartilham seus conhecimentos e experiências de ensino de POLH (Português como língua de herança) através de mesas de debates e participação do público.

Os principais objetivos do SEPOLH são:

  • propiciar maior intercâmbio de ideias e práticas entre os países europeus que possuem instituições trabalhando na difusão da língua portuguesa e da cultura brasileira;
  • incentivar a colaboração entre as instituições espalhadas pela Europa;
  • disseminar o trabalho dessas instituições;
  • dar maior visibilidade ao ensino do português como língua de herança na Europa.

Para mais informações, visite o site https://sites.google.com/site/sepolh ou escreva para info@sepolh.eu.

IV SEPOLH

Países: 22 de diferentes continentes. Participantes: 102, mais os alunos ouvintes. Durante dois dias (25 e 26 de outubro), educadores (mães/pais e professores ligados a associações de brasileiros no exterior) e pesquisadores acadêmicos (universidades brasileiras e europeias) estiveram reunidos nas cidades italianas de Florença e Pisa. O IV Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança (SEPOLH) discutiu e compartilhou teoria e experiências no ensino do Português como Língua de Herança, também conhecido pela sigla POLH.

Compareceram brasileiros residentes na Alemanha, Áustria, Brasil, Bélgica, Dinamarca, Dubai, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Irlanda, Itália, Japão, Noruega, Palestina, Portugal, Rússia, Suíça e Suécia. Participaram ativamente de mesas-redondas, palestras, debates e apresentações de pôsteres sobre temas como políticas linguísticas, plurilinguismo, inovações no ensino-aprendizagem e material didático. Surgiram muitas questões “porque são dúvidas de todos nós, pesquisadores e associações que trabalham com o ensino do português como língua de herança”, conta Ana Luíza Oliveira de Souza, organizadora local do evento ao lado Mônica Lupetti (Universidade de Pisa) e Daniela Mascarenhas Benedini (Universidade do Estado da Bahia).

“Realmente, foi um sucesso”, acrescenta Ana Souza, do comitê executivo e umas idealizadoras do SEPOLH. Além do número de países e de participantes, ela destacou a evolução na qualidade das apresentações, “que é o reflexo do crescimento do movimento do POLH em si, desses trabalhos que estão sendo desenvolvidos ao longo dos anos, que refletem a prática, a teoria, a convergência desses dois aspectos do português como língua de herança”. O resultado será a continuidade da “socialização” das crianças (filhas de brasileiros que crescem no exterior) e a transmissão da cultura brasileira, que “com certeza traz muitos frutos para o próprio Brasil”.

O evento foi muito bom, confirma Camila Lira, do comitê executivo do SEPOLH e da Linguarte (Munique). “Estamos muito felizes com a qualidade do evento, que mais uma vez uniu teoria e prática, profissionais acadêmicos, professores e coordenadores de iniciativas, bem como interessados num movimento em prol do POLH.”

Maria José Maciel, Juliana Azevedo Gomes e Adenilson Pereira, da coordenação do Elo Europeu, transmitiram o evento em tempo real pelo facebook. Foi possível observar pelas imagens a descontração na chegada, com encontros e reencontros e fotos de grupos informais para os álbuns. A atenção do público ao ouvir as primeiras falas na abertura (dia 24), e mesmo ao longo do evento. O profissionalismo e dedicação nas apresentações dos temas diversos e das experiências de cada país. A sensação de dever cumprido no ato de encerramento.

E não podia faltar, da parte de Ana Luiza, o tradicional agradecimento aos patrocínios e apoios, como os de Universidade de Pisa e seus departamentos envolvidos; Associazione Piazza San Donato/Casa do Brasil de Florença; Rede POLH Itália, Embaixada do Brasil na Itália; Prefeitura de Florença e Linguarte (Munique), além dos 10 funcionários do suporte técnico.

No final, Camila Lira anunciou a Espanha como sede da quinta edição do evento, embora ainda não esteja escolhida a cidade. Juliana Gomes, da APBC (Associação de Pais de Brasileirinhos da Catalunha) em Barcelona e uma das coordenadoras do Elo Europeu, será a responsável pela organização local do V SEPOLH.

Até 2021, na Espanha!

 

Texto de José Venâncio Resende

III SEPOLH

O III Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança (SEPOLH) reuniu 86 educadores (mães e professores) das diásporas de cerca de 10 países, no período de 20 a 22 de outubro em Genebra (Suíça). Na abertura do evento, estava presente a embaixadora Susan Kleebank, cônsul geral do Brasil em Genebra.

O evento – coordenado pela ABEC (Associação Brasileira de Educação e Cultura), de Zurique, e pela Associação Raízes para a Língua e a Cultura Brasileira, de Genebra – discutiu ensino, relações interculturais, plurilinguismo, pedagogia e outros temas relacionados com o português de herança na Europa, resume Maria José Maciel, coordenadora do Português sem Fronteiras e do Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança.

Elogiada pela “organização suíça”, Miriam Müller, coordenadora pedagógica da ABEC e uma das organizadoras do III SEPOLH, destaca a inovação em termos de abordagem dos grandes temas, em relação aos eventos anteriores. Lembra que as duas associações (ABEC e Raízes) desenvolvem há anos trabalhos em parceria com as secretarias de educação e escolas de pedagogia dos cantões suíços e já estão trabalhando com a questão da interculturalidade e do plurilinguismo. Por isso, “resolvemos trazer essas discussões para o simpósio. A ideia era inovar em termos de temas e aprofundar as discussões. A escolha dos expositores nas mesas temáticas tinha o cuidado de ter professores de países de idiomas diferentes entre si, pois pensamos que poderiam vir à tona dificuldades específicas.”

Miriam destaca ainda a apresentação parcial da pesquisa sobre currículos existentes, “questões que norteiam os trabalhos dos 31 grupos que responderam, visando analisar os objetivos e conteúdos que vêm sendo efetivamente trabalhados pelas iniciativas”. Elogia a contribuição, “sem ônus”, de profissionais suíços que contribuíram com as discussões. “E abrimos para que grupos fora da Europa pudessem enviar vídeos contando sobre seus trabalhos, ampliando nossos horizontes. Foi muito produtivo, na minha opinião, pois os participantes se envolveram realmente com todas as propostas.” Ela conclui que “o nível das discussões foi muito bom, mostrando que estamos crescendo”.

Em depoimento ao Elo Europeu, Ana Souza, uma das criadoras do SEPOLH na Inglaterra em 2013, enfatizou a sua evolução. “Pela primeira vez, tivemos acadêmicos locais participando do evento, compartilhando as experiências deles com multilinguismo e multiculturalismo; a experiência de plurilinguismo, da prática do ensino também das pessoas que trabalham dentro do sistema educacional suíço, na verdade no cantão de Genebra.” Ela citou ainda a apresentação de cartazes, “que também enriqueceu muito”, e a participação, pela primeira vez, de grupos da Nova Zelândia e da Austrália, que divulgaram o seu trabalho através de vídeos.

“Sucesso fantástico”

A professora Maria Luísa Ortiz Alvarez, da Universidade de Brasília (UnB), justifica por que considera que o evento foi “um sucesso fantástico”. “Primeiro, porque a união e a integração entre as pessoas que estão fazendo este trabalho nas diferentes diásporas são evidentes desde o primeiro dia.” Em segundo lugar, ela considerou a qualidade “nota mil”, tanto em relação às pessoas e os debates quanto em relação aos trabalhos apresentados.

Também falando ao Elo Europeu, Lourdes Gonçalves, coordenadora do ensino de português na Suíça, destacou o “lado maravilhoso” do evento, que foi ver a alegria de professores cujas tarefas “são como as dos caixeiros viajantes que trazem e levam as notícias de um lado para outro e carregam na sua bagagem muitas coisas maravilhosas”.

Uma destas “maravilhas” é o livro “O POLH na Europa, por Ana Souza e Camila Lira”, lançado no evento “que reúne artigos apresentados no II SEPOLH de Munique e, assim, valoriza as práticas teórico-didáticas no contexto europeu”, diz Camila Lira. Ela destaca ainda a participação do professor Akkari, da Universidade de Genebra, que falou sobre as potencialidades da Língua como recurso intercultural. “Esta palestra deu início às discussões seguintes sobre gramática no ensino de POLH e sobre o material didático de POLH, mostrando o quão intercultural o ensino de Língua de herança deve ser.”

Camila ressalta também o currículo, apresentado por Ana Souza e Miriam Müller, “com uma proposta que une a prática à teoria”, e as discussões sobre como utilizar as diversas línguas do aluno em prol do desenvolvimento linguístico do POLH. “Na minha opinião, este SEPOLH é como um divisor: enquanto os dois primeiros eventos serviram para mapear nosso trabalho na Europa, este mostrou uma perfeita sintonia entre as pesquisas apresentadas no livro como nas apresentações das colegas e do professor e a nossa prática.”

Por isso, Katia Fonseca, da Brazilian Educacional and Cultural Centre (BREACC), considera que foram “três dias maravilhosos, ricos em conteúdo, materiais, discussões e troca de ideias. Aprendi muito, voltei cheia de força para abrir novos caminhos”.

De fato, “foi um evento esclarecedor e enriquecedor”, opina Rita Dornelles, da Associação Raízes. Ela destaca que a troca de experiência entre colegas de diferentes países “foi fundamental para quem está iniciando uma escolinha, um grupo, uma reunião com crianças”. Também salientou a contribuição do evento para profissionais que estão fazendo pesquisa na área da língua portuguesa.

Tatiana Mazza-Surer, professora de português como língua de herança em Viena (Aústria), revelou ao Elo Europeu que está levando ideias para aplicar em sala de aula. “O SEPOLH sempre é uma sementinha que a gente vai colocar dentro da nossa terra, seja a Áustria, a Inglaterra ou outro país, porque realmente é o que vai alimentando. Aqui a gente vê que as pessoas têm os mesmos sucessos, as mesmas dificuldades, os mesmos fracassos, então acho que essa troca de experiências vale muito a pena.”

Ana Luiza de Souza, da Casa do Brasil de Florença, considera que foi “um período de muito aprendizado”, experiência esta que certamente vai utilizar na organização do IV SEPOLH, em 2019, na capital da região da Toscana, Itália.

Contribuição do jornalista José Venâncio de Resende em 31/10/2017

II SEPOLH

O II SEPOLH, uma iniciativa da ABRIR e, nesta segunda edição, organizado pela Linguarte e Mala de Leitura em Munique reuniu mais de 70 educadores e pesquisadores de POLH dos diversos países europeus, além de convidados do Brasil, do Japão e dos Emirado Árabes. Entre os participantes estavam a idealizadora do evento, Dra. Ana Souza, e a professora Dra. Maria Luiza Ortiz Alvarez, da Universidade de Brasília e referência no campo do ensino de Português como Língua de Herança.

Além de ter sido um espaço riquíssimo de intercâmbio entre educadores de diversas iniciativas, o evento, organizado por mesas temáticas, proporcionou compartilhar conteúdos e difundir práticas  relacionadas à criação de projetos, currículo, alfabetização, materiais didáticos e formação de professores, além de uma mesa de encerramento sobre desafios e perspectivas desta modalidade de ensino.

O evento, realizado entre os dias 16 e 18 de outubro em Munique deixou comprovado, mais uma vez, a importância do português como língua de herança na Europa e a franca expansão deste campo no meio acadêmico e junto aos educadores em todo o continente, ilustrando de forma clara que a união faz a força. Parabéns aos organizadores!

Confira as fotos na Galeria de Fotos e saiba mais sobre o evento aqui.

A próxima edição será na Suíça em 2017. Não perca!

I SEPOLH

Realizado em Londres em 24 e 25 de outubro de 2013 por iniciativa da organização ABRIR. O evento contou com 53 participantes de 10 países europeus.

Os principais objetivos do SEPOLH são:

  • propiciar maior intercâmbio de ideias e práticas entre os países europeus que possuem instituições trabalhando na difusão da língua portuguesa e da cultura brasileira;
  • incentivar a colaboração entre as instituições espalhadas pela Europa;
  • disseminar o trabalho dessas instituições;
  • dar maior visibilidade ao ensino do português como língua de herança na Europa.